Tenho saudades da
carícia dos teus braços, dos teus braços fortes, dos teus braços
carinhosos que me apertam e que me embalam nas horas alegres, nas horas
tristes. Tenho saudades dos teus beijos, dos nossos grandes beijos que
me entontecem e me dão vontade de chorar. Tenho saudades das tuas mãos
(...) Tenho saudades da seda amarela tão leve, tão suave, como se o sol
andasse sobre o teu cabelo, a polvilhá-lo de ouro. Minha linda seda loira,
como eu tenho vontade de te desfiar entre os meus dedos!
Tu tens-me
feito feliz, como eu nunca tivera esperanças de o ser. Se um dia alguém
se julgar com direitos a perguntar-te o que fizeste de mim e da minha
vida, tu dizes-lhe, meu amor, que fizeste de mim uma mulher e da minha
vida um sonho bom; podes dizer seja a quem for, a meu pai como a meu
irmão, que eu nunca tive ninguém que olhasse para mim como tu olhas, que
desde criança me abandonaram moralmente que fui sempre a isolada que no
meio de toda a gente é mais isolada ainda.
Podes dizer-lhe que eu tenho
o direito de fazer da minha vida o que eu quiser, que até poderia fazer
dela o farrapo com que se varrem as ruas, mas que tu fizeste dela
alguma coisa de bom, de nobre e de útil, como nunca ninguém tinha
pensado fazer.
Sinto-me nos teus braços defendida contra toda a gente e
já não tenho medo que toda a lama deste mundo me toque sequer.
Florbela Espanca, in "Correspondência (1920)"
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