sexta-feira, 20 de abril de 2012

Tapando o vazio com um letreiro barato...

Pessoas vazias, ocas, são as que se submetem incondicionalmente ao seu próprio raciocínio. Julgam-se estas, desde milênios, e de maneira esquesita, possuidores do direito absoluto de impor suas convicções restritas, usando da lei e da violência também sobre aqueles que desejam viver de conformidade com outras convicções.

Essa arrogância totalmente ilógica reside, por sua vez, apenas na restrita capacidade de compreensão do que chamo de seres humanos de raciocínio, os quais não conseguem elevar-se mais alto. Exactamente a limitação lhes traz um assim chamado clímax de compreensão, facto pelo qual têm de surgir tais ilusões presunçosas, por acreditarem que se encontram realmente nas alturas máximas. De facto , para eles, assim o é, pois há ali um limite que não coneguem transpor.

Seus ataques contra os que buscam o conhecimento mostram, contudo, nitidamente, através da incompreensivel odiosidade tantas vezes manifestada e observada de perto, o brandir do chicote das trevas atrás deles. Raramente se encontra algo de intenção sincera, nessas investidas hostis, que justifique, mais ou menos, a maneira de tão abominável procedimento. Na maioria dos casos se trata dum desencadear de cólera cega, a que falta qualquer lógica verdadeira. Examine-se com toda a calma tais ataques.

Raros são os artigos cujo conteúdo mostre a intenção de entrar objectivamente nas palavras escritas ou pregadas pelos que procuram o conhecimento. Surpreendente de todo é que a inconsistente mediocridade dos ataques se evidencia sempre exactamente por uma ausência absoluta de objectividade. Constituem sempre, às claras ou às escondidas, insultos à pessoa que busca o conhecimento.

Age dessa forma só mesmoquem não tem nada a contrapor objectivamente. A palavra deve ser submetidade a exame, e não a pessoa! Mas é costume de tais seres humanos de raciocínio procurar primeiro focalizar a pessoa, para depois considerar se podem dar ouvidos às bsuas palavras. É que eles, dada a estreita limitação da capacidade de compreensão, precisam de se agarrar em exterioridades, a fim de não se confundirem.

Eis a construção vazia que eles levantam e que é inaproveitável aos seres humanos; um grande estorvo para o progresso. Se no íntimo dispusessem de um apoio seguro, então confrontariam simplesmente coisa contra coisa, deixando de lado as pessoas. Não conseguem fazê-lo, todavia. Evitam isso, outrossim, conscientemente, porque pressentem ou sabem em parte que num torneio bem organizado logo cairiam da sela. Suas amiudadas alusões ironicas ao " pregador leigo" ou às " exposições de leigos" põem à mostra assim tanta presunção ridícula. que cada ser humano sensato logo intuirá: " Emprega-se um escudo aqui, a fim de esconder por todos os meios um estado oco. Tapar o próprio vazio com um letreiro barato!"




terça-feira, 10 de abril de 2012

A pior solidão é aquela que se sente quando acompanhado

Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o início deste milénio. As relações afectivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor.
O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.
A ideia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o romantismo, está fadada a desaparecer neste início de século. O amor romântico parte da premissa de que somos uma fracção e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos.
Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher. Ela abandona suas características, para se amalgamar ao projecto masculino. A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro tem de saber fazer o que eu não sei, se sou manso, ele deve ser agressivo, e assim por diante. Uma ideia prática de sobrevivência, e pouco romântica, por sinal.
A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o amor de necessidade, pelo amor de desejo. Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente. Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas, e aprendendo a conviver melhor consigo mesma. Elas estão começando a perceber que se sente fracção, mas são inteiras. O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fracção. Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem.
Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo. O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral. A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado. Visa a aproximação de dois inteiros, e não a união de duas metades. E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade.
Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afectiva. A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afectivas são óptimas, são muito parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem. Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém.
Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gémea e, na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto. Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando, para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal.
Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo, e não a partir do outro. Ao perceber isso ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.
O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável. Nesse tipo de ligação, há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado. Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo.

Flávio Gikovate

domingo, 8 de abril de 2012

Este Não


Este Não-Futuro que a Gente Vive Será que nos resta muito depois disto tudo, destes dias assim, deste não-futuro que a gente vive? (...) Bom, tudo seria mais fácil se eu tivesse um curso, um motorista a conduzir o meu carro, e usasse gravatas sempre. Às vezes uso, mas é diferente usar uma gravata no pescoço e usá-la na cabeça. Tudo aconteceu a partir do momento em que eu perdi a noção dos valores. Todos os valores se me gastaram, mesmo à minha frente. O dinheiro gasta-se, o corpo gasta-se. A memória. (...) Não me atrai ser banqueiro, ter dinheiro. Há pessoas diferentes. Atrai-me o outro lado da vida, o outro lado do mar, alguma coisa perfeita, um dia que tenha uma manhã com muito orvalho, restos de geada… De resto, não tenho grandes projectos. Acho que o planeta está perdido e que, provavelmente, a hipótese de António José Saraiva está certa: é melhor que isto se estrague mais um bocadinho, para ver se as pessoas têm mais tempo para olhar para os outros.

Al Berto, in "Entrevista à revista Ler (1989)"

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Às vezes...

Às vezes penso que o coração das pessoas é como um poço sem fundo. Ninguém sabe o que se encontra no seu interior. Não temos outro remédio senão dar largas à imaginação a partir do que aparece volta e meia, à tona."


Momentos

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Impressão digital


Tomara
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz

E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...

Vinícius de Moraes