terça-feira, 30 de julho de 2013

A gente não faz amigos, reconhece-os.



Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles. 
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. 
E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! 
Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências ... 
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. 
Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar. 
Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. 
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. 
E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida. 
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. 
E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo. 
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. 
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer ... 
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos! 
A gente não faz amigos, reconhece-os. 

Vinícius de Moraes

sábado, 20 de julho de 2013

Impressão Digital


Momentos


Amargo doce Mundo

Trágico
Todos tentando esconder
Todas essas garotas
Se habituam a isso
É meio bizarro quando essa é quem você realmente é
É trágico o que isso se torna
Eu enterro todos meus vícios
Tentando deixar minha cabeça levantada sobre isso
Quando tudo é tanto faz,
O ser tudo é ser nada
E antes de desaparecermos
Chame as coisas como realmente são
E você deveria saber
Você pode falar
É um amargo doce mundo
Porque todos nós não vamos em frente
Nesse
Amargo doce mundo
Todos estão colhendo o que eles plantaram
Nesse
Doce mundo

O que quer que tenha acontecido com a mágica
Que nos segurou
A fé que estava acesa na estrela
Agora
Os hipócritas apontam dedos
Com três dedos para trás
E tudo foi deixado com isso [x6]
O orgulho insensato e as soluções rápidas
Ya
O ser tudo é ser nada
E antes de desaparecermos
Chame as coisas como realmente são
E você deveria saber
Você pode falar
É um amargo doce mundo
Porque todos nós não vamos em frente
Nesse
Amargo doce mundo
Todos estão colhendo o que eles plantaram
Nesse
Amargo doce mundo
Com guarda-roupas cheios de esqueletos
Eu sou uma amarga doce garota
Demônios estão longe de me pegar
Enquanto eu permaneço sozinha

Há uma questão universal
Todos estão em disfarces
até você e eu
diante da fachada tentando nos dar bem
Você quer brincar com fogo
Outra vez
Há uma questão universal
Todos estão em disfarces
Até você e eu
Diante da fachada tentando nos dar bem
Você quer brincar com fogo
Você vai ficar queimado
O ser tudo é ser nada
E antes de desaparecermos
Chame as coisas como realmente são
E você deveria saber
Você pode falar
É um amargo doce mundo
Porque todos nós não vamos em frente
Nesse
Amargo doce mundo
Com guarda-roupas cheios de esqueletos
Eu sou uma amarga doce garota
Demônios estão longe de me pegar
E eu continuo sozinha

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Impressão Digital


As palavras vestiram-se de azul-castanho

As palavras vestiram-se de azul-castanho e empurraram as
vidraças, onde eu me me encostava, conversando com a lua. Era contundente e autoritário o rumor das sílabas, inquietante o movimento das vogais, cáustico o sibilar das consontes. A torrente de queixumes rebentou o frágil dique de silêncio que pairava, constrangedor. Discorreram longamente sobre os cansaços, o desgaste, a deturpação, o esvaziamento, a vaguidade e a leviandade com que andam a ser tratadas. Querem ser poupadas, respeitadas, ouvidas. Sobretudo querem que lhes seja restituída a dignidade. Estão saturadas da inutilidade com que as usam em frases de grandes efeitos e nulas de conteúdo. Não querem ser mostradas do avesso e exigem que lhes sejam devolvidas as raízes que lhes dão identidade. Não querem ser escritas nem pronunciadas em vão. Querem voltar a ser poesia e prosa de origens genuínas. E ser obedecidas nas regras que impõem. Não pensei que as palavras vertessem lágrimas, tão-só que as descrevessem. Mas no reflexo das vidraças onde dançava a lua, gotas redondas, brilhantes como cristais, escorriam como chuva suave em noite de verão. Uma onda de arrependimento, de pudor e de remorso sufocou-me todos os argumentos, todas as respostas. Prometi que as votaria a um limbo protector e que as deixaria serenar em páginas vazias e nuas. Libertei-as num voo nocturno e apaziguador, e elas formaram círculos que traduziam sorrisos gratos. Seguiram um rumo desconhecido, desenhando elegantes e complexos arabescos na noite escura. Nunca as amei tanto como nesse momento… e a sua ausência é saudade macia em que me deito e adormeço…

Rita Pais 

Quase...


Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono. 

Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. 

Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém,preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

Luiz Fernando Verissimo

terça-feira, 16 de julho de 2013

Não sei quem sou...

Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo.
Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros)...
Sinto crenças que não tenho.
Enlevam-me ânsias que repudio.
A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me ponta
traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha,
nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo.
Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos
que torcem para reflexões falsas
uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore (?) e até a flor,
eu sinto-me vários seres.
Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente,
como se o meu ser participasse de todos os homens,
incompletamente de cada (?),
por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço.

(Fernando Pessoa)

Abraça-me. Uma vez só. Uma vez mais...

Abraça-me. Quero ouvir o vento que vem da tua pele, e ver o sol nascer do intenso calor dos nossos corpos. Quando me perfumo assim, em ti, nada existe a não ser este relâmpago feliz, esta maçã azul que foi colhida na palidez de todos os caminhos, e que ambos mordemos para provar o sabor que tem a carne incandescente das estrelas. Abraça-me. Veste o meu corpo de ti, para que em ti eu possa buscar o sentido dos sentidos, o sentido da vida. Procura-me com os teus antigos braços de criança, para desamarrar em mim a eternidade, essa soma formidável de todos os momentos livres que a um e a outro pertenceram. Abraça-me. Quero morrer de ti em mim, espantado de amor. Dá-me a beber, antes, a água dos teus beijos, para que possa levá-la comigo e oferecê-la aos astros pequeninos.
Só essa água fará reconhecer o mais profundo, o mais intenso amor do universo, e eu quero que delem fiquem a saber até as estrelas mais antigas e brilhantes.
Abraça-me. Uma vez só. Uma vez mais.

Joaquim Pessoa

segunda-feira, 15 de julho de 2013

O amor verdadeiro começa lá onde não se espera mais nada em troca.


 

Não confundas o amor com o delírio da posse, que acarreta os piores sofrimentos. Porque, contrariamente à opinião comum, o amor não faz sofrer. O instinto de propriedade, que é o contrário do amor, esse é que faz sofrer. Eu sei assim reconhecer aquele que ama verdadeiramente: é que ele não pode ser prejudicado.
O amor verdadeiro começa lá onde não se espera mais nada em troca.

Antoine de Saint-Exupéry

terça-feira, 9 de julho de 2013

Ainda bem que aconteceu


Talvez seja mau agora, talvez não seja isso que você esperava. Talvez você se revolte com o que aconteceu. Mas num futuro previsível você vai pensar: “Ainda bem que aconteceu”.