Para curar uma dor de amor, digam o que
quiserem, só conheço um remédio: um amor novinho em folha. Enquanto
nosso coração não encontrar outro pretendente, ficaremos cultivando o
velho amor, alimentando-o diariamente,
sofrendo por ele e, no fundo, bem no fundinho, felizes por ter para quem
dedicar nossos ais e nossa insônia. A gente só enterra mesmo o defunto
quando outra pessoa surge para ocupar o posto.
Se isso lhe
parece uma teoria simplista, toque aqui. É simplista sim. Isso de
enterrar o defunto do dia pra noite só funciona quando o defunto era
apenas uma paixonite, um entusiasmo, fogo de palha. Porém, se era algo
realmente profundo, um sentimento maduro, aí o efeito do novo amor pode
revelar-se um belo tiro pela culatra. Ele acabará servindo apenas para
dar a você a total certeza de que aquele amor anterior era realmente um
bem durável. E a dor voltará redobrada.
Um beijo que
deveria inaugurar uma nova fase em sua vida pode trazer à tona
lembranças fortes do passado, e nem é preciso comparar os beijos, apenas
as sensações provocadas. Quem já vivenciou isso sabe o constrangimento
que é beijar alguém e morrer de saudades do antecessor.
Um novo
amor pode transformar o que era opaco em transparência: você não sabia
exatamente o que sentia pelo ex, se era amor ou não, então surge outra
pessoa e você descobre que sim, era amor, caso contrário não sentiria
esse abandono, essa perturbação, essa forte impressão de que está
fazendo uma tentativa inútil, de que não conseguirá ir adiante.
Mas o que
fazer? Encarar uma vida monástica, celibatária? Nada disso. Viva as
tentativas inúteis! Uma, duas, três, até que alguma delas consiga
superar de vez a inquietação do passado, que venha realmente inaugurar
uma nova fase em sua agenda amorosa, que deixe você tranqüilo em relação
ao que viveu e ao que deve viver daqui pra frente.
No entanto,
quanto mais escrevo, mais me dou conta de que não há fórmula que dê
garantia para nossas atitudes, de que não há pessoa neste mundo que não
possa nos surpreender, de que tudo o que vivemos são tentativas, e que
inútil, inútil mesmo, nenhuma é.
Martha Medeiros