terça-feira, 27 de maio de 2014

(in)voluntariamente




Uns dias de silêncio, para reparar
os erros,
cometidos a si mesmo...
Uns dias de recolhimento,
para sanar
o corpo,
bem como lavar
a própria alma, sem lamento.

Restaurar, não só à pátina,
as ranhuras,
as lascas...
Os filamentos.
Não... Nada dessa coisa
de apenas
‘dar um tapa’ na carcaça.

Coisa mais fácil,
bastavam apenas algumas horas!
Era necessário levar a sério,
dias de silêncio,
dias de total isolamento...
Para reparar
os erros, todos, tolos, cometidos
sem pensar, (in)voluntariamente
a si mesmo!
 
P.Z.
 

terça-feira, 20 de maio de 2014

A dor é inevitável. O sofrimento é opcional...





Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos
o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções
irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado
do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter
tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que
gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade. 

 Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas
as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um
amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os
momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas
angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo
confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar. 

 Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma
pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez
companhia por um tempo razoável,um tempo feliz.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um
verso:

Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida
está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
sofrimento,perdemos também a felicidade. 

A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional...

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 13 de maio de 2014

A Maior Idade!!!



Enternecemo-nos com uma criança porque ela está no princípio da vida, tudo nela promete surpresa e futuro, e nós enternecemo-nos porque ela é um sinal da nossa esperança. Não sei por que razão não nos
comovemos com a pessoa que atingiu uma idade maior se a sua vida relata como cumpriu a esperança daqueles que a viram nascer. Talvez o mundo e as relações entre as pessoas mudassem para muito melhor, se no rosto de cada um vislumbrássemos a criança que em si foi e continua a ser. Frágeis e inocentes sobre o papel que nos cabe, até ao fim da vida, incluindo o período da nossa maior pujança, nunca deixamos de ser um início de pessoa disfarçado de gente grande. Mais do que um mistério do corpo, esse é um labor do tempo. 

Aquilo de que a pessoa da idade maior necessita é, sobretudo, de continuar a acreditar que o seu corpo, o seu espírito e o seu labor ocupam um lugar que ninguém mais, na cadeia do tempo, ocupa por si. Precisa de ter consciência de que constitui uma linha de força na vida, que desempenha um papel e representa uma esperança. Não acredito que uma sociedade que retire a ideia de importância ao idoso, possa lidar amigavelmente com os seus maiores aliados, a infância e a juventude. 

Idade maior, idade de viagem, idade de sabedoria. Mais do que isso. Sabe-se por demais como o vigoroso terá sido pequena pessoa, se acaso não se inscreveu na corrente contemporânea para partilhar e ser útil. Quando a pessoa deixa o seu trabalho formal, nada o impede de procurar ser útil.

Ser útil, estar entre os outros e fazer parte do grupo onde os outros estão, inscrever-se numa totalidade maior do que a sua pessoa, e do que a sua família, manter-se na rua para se associar aos ecos que o mundo dá de si, em cada instante, constrói a pessoa cujo passado se confunde com o futuro que traz consigo.

Deveria divulgar-se a ideia de que ser velho não é uma especificidade, é um cúmulo da idade onde se somam todas as qualidades de que somos feitos. Demonstrar aos próprios a evidência da utilidade do seu papel é a primeira obrigação que uma comunidade sábia deve ter para com os mais velhos. Um dia, no futuro, quando saber mais significar aplicar melhor, essa harmonia que hoje se procura não há de ser uma elaborada utopia, há de ser apenas uma saudável realidade.

 Lídia Jorge - A Maior Idade

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Tentando um novo amor...



Para curar uma dor de amor, digam o que quiserem, só conheço um remédio: um amor novinho em folha. Enquanto nosso coração não encontrar outro pretendente, ficaremos cultivando o velho amor, alimentando-o diariamente, sofrendo por ele e, no fundo, bem no fundinho, felizes por ter para quem dedicar nossos ais e nossa insônia. A gente só enterra mesmo o defunto quando outra pessoa surge para ocupar o posto.

Se isso lhe parece uma teoria simplista, toque aqui. É simplista sim. Isso de enterrar o defunto do dia pra noite só funciona quando o defunto era apenas uma paixonite, um entusiasmo, fogo de palha. Porém, se era algo realmente profundo, um sentimento maduro, aí o efeito do novo amor pode revelar-se um belo tiro pela culatra. Ele acabará servindo apenas para dar a você a total certeza de que aquele amor anterior era realmente um bem durável. E a dor voltará redobrada.
 Um beijo que deveria inaugurar uma nova fase em sua vida pode trazer à tona lembranças fortes do passado, e nem é preciso comparar os beijos, apenas as sensações provocadas. Quem já vivenciou isso sabe o constrangimento que é beijar alguém e morrer de saudades do antecessor.

Um novo amor pode transformar o que era opaco em transparência: você não sabia exatamente o que sentia pelo ex, se era amor ou não, então surge outra pessoa e você descobre que sim, era amor, caso contrário não sentiria esse abandono, essa perturbação, essa forte impressão de que está fazendo uma tentativa inútil, de que não conseguirá ir adiante.

 Mas o que fazer? Encarar uma vida monástica, celibatária? Nada disso. Viva as tentativas inúteis! Uma, duas, três, até que alguma delas consiga superar de vez a inquietação do passado, que venha realmente inaugurar uma nova fase em sua agenda amorosa, que deixe você tranqüilo em relação ao que viveu e ao que deve viver daqui pra frente.

No entanto, quanto mais escrevo, mais me dou conta de que não há fórmula que dê garantia para nossas atitudes, de que não há pessoa neste mundo que não possa nos surpreender, de que tudo o que vivemos são tentativas, e que inútil, inútil mesmo, nenhuma é.

 Martha Medeiros

sábado, 10 de maio de 2014

Pelo simples prazer da nossa companhia..



Centenas de pessoas atravessam a nossa vida diariamente. Umas passam bem devagar e aproveitam o trajeto ao nosso lado, outras estão sempre correndo e não tem interesse em observar o caminho connosco, e têm aquelas que decidem fazer o mesmo percurso que a gente pelo simples prazer da nossa companhia.
As pessoas que fazem parte da última categoria sabem que nem sempre será prazeroso. Elas também reconhecem que muitas vezes o caminho será complicado. Em outras situações irão questionar qual a razão de agirmos de determinada forma enquanto caminhamos. Mas nunca, em hipótese nenhuma vão achar que o passeio foi em vão.

Amigo de verdade te leva a sério, te leva no riso, te leva no bico, mas te leva.

Te carrega para vida toda!

 Fernanda Gaona