Ouvimos falar dele, constatamo-lo nas famílias, nos conhecidos e amigos, assistimos a uma geração inteira de vida adiada. Sem autonomia, sem opção, sem escolhas. Sem possibilidade de constituir família, assumir encargos, projectar o futuro, existir.
Mas quantas vezes falámos sobre as suas causas? Quantas vezes achámos rapidamente e com um encolher de ombros que é por causa da crise?
Parece que afinal, segundo um estudo da consultora McKinsey para a Comissão Europeia, a “falta de emprego” e a “crise económica” explicam apenas uma parte do problema. Há outros factores há muito apontados pelos sociólogos (esses profissionais que tanta gente acha que não servem para nada…):
- o adiamento da idade da reforma que prolonga a permanência da população no activo;
- o aumento do número de mães trabalhadoras que conciliam a vida familiar com a profissional e, assim, reingressam ou nem chegam a sair do mercado de trabalho;
- a desadequação entre o que se aprende e aquilo que o mercado de trabalho procura.
O pior de tudo é a conversa de surdos-mudos entre o mercado do trabalho e o mercado dos cursos superiores: em Espanha, por exemplo, desde 2008, o número de empregos na área da construção caiu 62%, no entanto, o número de diplomados em arquitectura e engenharia civil aumentou em 174% desde 2005.
A rigidez da oferta formativa deixa em casa de canudo na mão milhares de diplomados a quem a realidade fugiu, veloz na mudança, sem contemplações.
O mundo mudou e a escola portuguesa perdeu o comboio da realidade a muitos níveis e há muito tempo. Por isso, se queremos todos mais adequação entre aquilo que sabem fazer os jovens diplomados e aquilo que as empresas precisam, é preciso intervir lá no início da pescadinha de rabo na boca, ou seja, nas leis que determinam como é a formação de professores, como são desenhados os cursos superiores, na forma como se ensina e se aprende.
Afinal que formação falta aos candidatos a um emprego?
Quem emprega, fala de lacunas nas “competências básicas” nas áreas da comunicação oral e da ética do trabalho.
Neste estudo, três em cada 10 empregadores portugueses responderam que não estão a ocupar as vagas porque não conseguem encontrar candidatos com as competências certas e isto é um assunto particularmente crítico nas empresas pequenas, tendo Portugal uma carência no que se refere à capacidade de resolver problemas e no domínio da língua inglesa.
Este facto significa uma de duas coisas: que há gente à procura de trabalho que não esteve tempo suficiente na Escola, ou que muitas pessoas que tiveram largos anos de inglês na escola não aprenderam o suficiente para fazer dessa língua uma ferramenta de trabalho. Porquê?
Como ex-professora tenho umas pistas, mas não cometo a leviandade de me colocar com palpites. Os porquês carecem de pesquisa a sério, mas podem começar olhando para os adolescentes que conhecem: quantos são capazes de sustentar uma conversa em inglês com um nativo na língua? Quantos seriam capazes de ser auto-suficientes na comunicação falada e escrita num país de língua inglesa?
Já a carência que os empregadores portugueses detectam na incapacidade de resolver problemas é coisa vasta, mas talvez que uma educação que não premeia a originalidade, a diferença, a pro-actividade, a reflexão, a cidadania activa não possa esperar profissionais que resolvam problemas. Se educamos crianças para repetir modelos e verdades fossilizadas, não devemos esperar adultos criativos, assertivos ou sequer curiosos, futuros profissionais que saibam resolver problemas.
No momento em que delegamos “em quem de direito” resolver a nossa vida e a dos nossos filhos estamos a cometer vários erros perigosos: um é achar que quem nos governa está interessado em resolver qualquer dos nossos problemas; outro é partir do princípio que quem nos governa sabe resolver os nossos problemas.
Posto isto, o que nos resta para que mais uma geração não seja triturada a estudar o que não serve ao mercado de trabalho?
- Dar voz a quem emprega: quem melhor que os empresários para dizer aos responsáveis pelos cursos, que tipo de profissionais precisam?
- Ouvir os mais jovens: não se aprende agora como há 50 anos.
- Nivelar por cima: para ensinar não bastam os médios. Precisamos dos melhores para ensinar. Os melhores são aqueles que sabendo como ensinar, sabem o que ensinar. Os melhores são também os que gostam e sabem comunicar com crianças e jovens. Na Finlândia, o país do sucesso educativo - que começou a descentralizar a Educação com poderes reforçados aos municípios na década de 70 - os professores respondem na sua maioria à pergunta -Porque escolheu ser professor?, com uma encantadora resposta: “Porque gosto de crianças.
Depois, temos os jovens licenciados em casa dos pais. Sem futuro.
Da próxima vez que houver eleições, seja exigente.
Escolha alguém que se preocupe com a Educação.
É o único caminho que desemboca num lugar chamado Futuro.
Alexandra Azambuja
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