segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Vale a pena estudar?


O desemprego jovem é terrível.

Ouvimos falar dele, constatamo-lo nas famílias, nos conhecidos e amigos, assistimos a uma geração inteira de vida adiada. Sem autonomia, sem opção, sem escolhas. Sem possibilidade de constituir família, assumir encargos, projectar o futuro, existir.

Mas quantas vezes falámos sobre as suas causas? Quantas vezes achámos rapidamente e com um encolher de ombros que é por causa da crise?

Parece que afinal, segundo um estudo da consultora McKinsey para a Comissão Europeia, a “falta de emprego” e a “crise económica” explicam apenas uma parte do problema. Há outros factores há muito apontados pelos sociólogos (esses profissionais que tanta gente acha que não servem para nada…):
  • o adiamento da idade da reforma que prolonga a permanência da população no activo;
  • o aumento do número de mães trabalhadoras que conciliam a vida familiar com a profissional e, assim, reingressam ou nem chegam a sair do mercado de trabalho;
  • a desadequação entre o que se aprende e aquilo que o mercado de trabalho procura. 
Afinal 74% das instituições de educação estão confiantes que os seus diplomados estão preparados para ingressar no mercado de trabalho mas só 38% dos jovens e 35% dos empregadores partilham a mesma confiança.
O pior de tudo é a conversa de surdos-mudos entre o mercado do trabalho e o mercado dos cursos superiores: em Espanha, por exemplo, desde 2008, o número de empregos na área da construção caiu 62%, no entanto, o número de diplomados em arquitectura e engenharia civil aumentou em 174% desde 2005.

A rigidez da oferta formativa deixa em casa de canudo na mão milhares de diplomados a quem a realidade fugiu, veloz na mudança, sem contemplações.
O mundo mudou e a escola portuguesa perdeu o comboio da realidade a muitos níveis e há muito tempo. Por isso, se queremos todos mais adequação entre aquilo que sabem fazer os jovens diplomados e aquilo que as empresas precisam, é preciso intervir lá no início da pescadinha de rabo na boca, ou seja, nas leis que determinam como é a formação de professores, como são desenhados os cursos superiores, na forma como se ensina e se aprende.

Afinal que formação falta aos candidatos a um emprego?

Quem emprega, fala de lacunas nas “competências básicas” nas áreas da comunicação oral e da ética do trabalho.
Neste estudo, três em cada 10 empregadores portugueses responderam que não estão a ocupar as vagas porque não conseguem encontrar candidatos com as competências certas e isto é um assunto particularmente crítico nas empresas pequenas, tendo Portugal uma carência no que se refere à capacidade de resolver problemas e no domínio da língua inglesa.
Este facto significa uma de duas coisas: que há gente à procura de trabalho que não esteve tempo suficiente na Escola, ou que muitas pessoas que tiveram largos anos de inglês na escola não aprenderam o suficiente para fazer dessa língua uma ferramenta de trabalho. Porquê?

Como ex-professora tenho umas pistas, mas não cometo a leviandade de me colocar com palpites. Os porquês carecem de pesquisa a sério, mas podem começar olhando para os adolescentes que conhecem: quantos são capazes de sustentar uma conversa em inglês com um nativo na língua? Quantos seriam capazes de ser auto-suficientes na comunicação falada e escrita num país de língua inglesa?

Já a carência que os empregadores portugueses detectam na incapacidade de resolver problemas é coisa vasta, mas talvez que uma educação que não premeia a originalidade, a diferença, a pro-actividade, a reflexão, a cidadania activa não possa esperar profissionais que resolvam problemas. Se educamos crianças para repetir modelos e verdades fossilizadas, não devemos esperar adultos criativos, assertivos ou sequer curiosos, futuros profissionais que saibam resolver problemas.

No momento em que delegamos “em quem de direito” resolver a nossa vida e a dos nossos filhos estamos a cometer vários erros perigosos: um é achar que quem nos governa está interessado em resolver qualquer dos nossos problemas; outro é partir do princípio que quem nos governa sabe resolver os nossos problemas.

Posto isto, o que nos resta para que mais uma geração não seja triturada a estudar o que não serve ao mercado de trabalho?
  • Dar voz a quem emprega: quem melhor que os empresários para dizer aos responsáveis pelos cursos, que tipo de profissionais precisam?
  • Ouvir os mais jovens: não se aprende agora como há 50 anos.
  • Nivelar por cima: para ensinar não bastam os médios. Precisamos dos melhores para ensinar. Os melhores são aqueles que sabendo como ensinar, sabem o que ensinar. Os melhores são também os que gostam e sabem comunicar com crianças e jovens. Na Finlândia, o país do sucesso educativo - que começou a descentralizar a Educação com poderes reforçados aos municípios na década de 70 - os professores respondem na sua maioria à pergunta -Porque escolheu ser professor?, com uma encantadora resposta: “Porque gosto de crianças.
Em todos os momentos em que não agimos para mudar o estado de coisas, as coisas permanecem iguais. É a chamada Lei Portuguesa do Deixa Andar.
Depois, temos os jovens licenciados em casa dos pais. Sem futuro.

Da próxima vez que houver eleições, seja exigente.
Escolha alguém que se preocupe com a Educação.

É o único caminho que desemboca num lugar chamado Futuro.

Alexandra Azambuja

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