quarta-feira, 2 de julho de 2014

O teu sorriso...




O teu sorriso



Tira-me o pão, se quiseres,
 

tira-me o ar,

mas não me tires o teu sorriso.



Não me tires a rosa,

a lança que desfolhas,

a água que de súbito

brota da tua alegria,

a repentina onda

de prata que em ti nasce.
 
 
 A minha luta é dura e regresso

com os olhos cansados,

às vezes por ver

que a terra não muda,

mas ao entrar, o teu sorriso

sobe ao céu a procurar-me

e abre-me

todas as portas da vida.

Meu amor, nos momentos

mais escuros solta

o teu sorriso e se de súbito

vires que o meu sangue mancha

as pedras da rua,

ri, porque o teu riso

será para as minhas mãos

como uma espada fresca.
 
 
À beira do mar, no outono,

o teu sorriso deve erguer

a sua cascata de espuma,

e na primavera, amor,

quero o teu sorriso como

a flor que esperava,

a flor azul, a rosa

da minha pátria sonora.



Ri-te da noite,

do dia, da lua,

ri-te das ruas

tortas da ilha,

ri-te deste grosseiro

rapaz que te ama,

mas quando abro

os olhos e os fecho,

quando meus passos vão,

quando voltam meus passos,

nega-me o pão, o ar,

a luz, a primavera,

mas nunca o teu sorriso,

porque então morreria.


Pablo Neruda, Os versos do capitão
 

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